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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Texto do jornalista Arnaldo Jabor sobre o Rio Grande do Sul.

“O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos. Olham o escândalo na televisão e exclamam ’que horror’. 
Sabem do roubo do político e falam ’que vergonha’. Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam ’que absurdo’. Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem ’que baixaria’. Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram ’que medo’. E pronto! 
Pois acho que precisamos de uma transição ‘neste país’. Do ressentimento passivo à participação ativa’. Pois recentemente estive em Porto Alegre, onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou. 
Um regionalismo que simplesmente não existe em São Paulo que, sendo de todos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa: abriram com o Hino Nacional. Todos em pé, cantando. Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul. 
Fiquei curioso. Como seria o hino? Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra! 
 ‘Como a aurora precursora / do farol da divindade, / foi o vinte de setembro / o precursor da liberdade. ‘
Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão. Com garrafa de água quente e tudo. E oferece aos que estão em volta. Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem. E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu, paulista, não estou acostumado. 
Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais o que é ‘comunidade’. Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo. Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é…Foi então que me deu um estalo. Sabe como é que os ‘ressentimentos passivos’ se transformarão em participação ativa? 
De onde virá o grito de ‘basta’ contra os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil? De São Paulo é que não será. 
Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo. 
Os paulistas perderam a capacidade de mobilização. Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção. São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura própria, sem ‘liga’. Cada um por si e o todo que se dane. E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes. 
Penso que o grito – se vier – só poderá partir das comunidades que ainda têm essa ‘liga’. A mesma que eu vi em Porto Alegre. 
Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira. Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo. 
Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles.
De minha parte, eu acrescentaria, ainda: 
‘…Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra…’

ANTES DE PARTIR

É comum ao ser humano afastar a idéia da morte, imaginando que nunca vai morrer, e achar que tragédias fatais só acontecem com os outros.
De qualquer forma, a vida segue seu rumo, lado a lado com a morte. Pode parecer que hoje estou pessimista ao escrever sobre um assunto fúnebre. Pelo contrário! Estou muito bem, obrigada.
Assisti a um filme imperdível: "Antes de Partir". Ao ler os nomes dos artistas principais, Jack Nicholson e Morgan Freeman, já fui certa de que iria gostar. E que filmaço! Prima pelos diálogos engraçados, comoventes, entre duas pessoas idosas, expressivas e inteligentes, que se conhecem num quarto de hospital.
Jack é o rico dono do hospital e de um humor sarcástico. E Morgan é um mecânico de classe média, fala pausada, cheio de sabedoria e bondade. Um é branco e o outro é negro. Os dois têm em comum o diagnóstico de câncer incurável e o prognóstico de que terão cerca de seis meses de vida.
O mecânico, ao saber da trágica notícia, começa a escrever uma lista com os itens que almeja cumprir antes de chegar a hora fatal.
Jack, o dono do hospital, lê aquilo e propõe fazer uma nova lista, começando por partirem pra uma viagem pelo mundo. E garante bancar todas as despesas.
Os dois fogem do hospital pra curtir aquela aventura, com o compromisso de cumprir a lista, realizando tudo aquilo que gostariam de fazer "Antes de Partir". O que os une é que ambos são muito inteligentes, irônicos e estão dispostos a não perder tempo.
Será que há necessidade de que todos os mortais recebam um aviso igual pra dar mais valor à vida, rever conceitos, romper barreiras? 
Os piores arrependimentos não são daquilo que fizemos, mas daquilo que deixamos de fazer. E este aviso da chegada da morte é muito raro de acontecer. Além disso, o tempo voa! Quando menos se espera, surgem os primeiros cabelos brancos.
E, ao entrarmos na fase dos enta, que poderá ser a última se não chegarmos aos cem anos, vamos deixar escapar esse tempo precioso, enquanto temos saúde e, ainda, alguma economia e uma aposentadoria garantida?
Muita gente, quando se aposenta, não sabe como aproveitar este benefício e entra em depressão. É porque se acostumou a lutar pela vida e nunca aprendeu a gozá-la.
Quanto tempo você acha que tem pela frente? Não existe uma resposta, né? Então trate de viver. Livre-se da rotina, das mágoas e repressões. Aproveite pra realizar seus sonhos possíveis e também os que considera impossíveis.
Envelhecer, como dizia a minha sábia mãe, Magdalena Léa, é ganhar mais vida!
Não fique dentro de casa, olhando pro relógio ou olhando pro teto, esperando o dia passar, sofrendo de tédio! Decida fazer uma atividade nova, aprenda a usar o computador, tablet, Ipad, Iphone, celular...
Descubra uma nova paixão por alguém ou por algum ofício. Conheça lugares e pessoas. Crie uma nova família, aumente a sua, pois nem sempre podemos contar com a nossa de origem.
Envelhecer não é a pior fase. A não ser que se fique inerte, enchendo a pança. O velho não precisa ser uma pessoa deprimida, rancorosa, nem cheia de dor. A pior é a da alma. Só que um dia ela sairá do nosso corpo inerte e viajará sozinha... pro além.
E vamos acabar com o preconceito contra a palavra "velho", pois “idoso” é sinônimo de velho. Está registrado nos dicionários!
Aproveite que está vivo! Levante, sacuda a poeira e venha participar ativamente da nossa rede de amigos.
Dance, cante, brinque, faça amigos. Não permita que seu tempo se acabe, aborrecido, sem brilho, sem encanto!
Ame a vida e ela lhe devolverá mais saúde e mais amor antes de você partir.

AMORES MAL RESOLVIDOS

Olhe para um lugar onde tenha muita gente: uma praia num domingo de sol, uma estação de metrô, a rua principal do centro da cidade.
Metade deste povaréu sofre de dor de cotovelo.
Alguns trazem dores recentes, outros trazem uma dor de estima, mas o certo é que grande parte desses rostos anônimos tem um amor mal resolvido, uma paixão que não se evaporou completamente, mesmo que já estejam em outra relação.
Por que isso acontece?
Tenho uma teoria, ainda que eu seja tudo, menos teórico no assunto.
Acho que as pessoas não gastam seu amor. Isso mesmo.
Os amores que ficam nos assombrando não foram amores consumidos até o fim.
Você sabe, o amor acaba. É mentira dizer que não.
Uns acabam cedo, outros levam 10 ou 20 anos para terminar, talvez até mais. Mas um dia acaba e se transforma em outra coisa: lembranças, amizade, parceria, parentesco, e essa transição não é dolorida se o amor for devorado até o fim.
Dor de Cotovelo é quando o amor é interrompido antes que se esgote. O amor tem que ser vivenciado. Platonismo funciona em novela, mas na vida real demanda muita energia, sem falar do tempo que ninguém tem para esperar. E tem que ser vivido em sua totalidade.
É preciso passar por todas as etapas:
atração-paixão-amor-convivência-amizade-tédio-fim.
Como já foi dito, este trajeto do amor pode ser percorrido em algumas semanas ou durar muitos anos, mas é importante que transcorra de ponta a ponta, senão sobra lugar para fantasias, idealizações, enfim, tudo aquilo que nos empaca a vida e nos impede de estarmos abertos para novos amores.
Se o amor foi interrompido sem ter atingido o fundo do pote, ficamos imaginando as múltiplas possibilidades de continuidade, tudo o que a gente poderia ter dito e não disse, feito e não fez.
Gaste seu amor. Usufrua-o até o fim. Enfrente os bons e maus momentos, passe por tudo que tiver que passar, não se economize.
Sinta todos os sabores que o amor tem, desde o adocicado do início até o amargo do fim, mas não saia da história na metade. Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo, fechando o próprio ciclo.
Isso é que libera a gente para Ser Feliz Novamente!!!